“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

9 de ago. de 2011

Somos a geração obaoba

- sueli gallacci

Será que alguém já parou pra pensar quantas vezes por dia falamos em Deus?

No alívio: Graças à Deus!
No medo: Deus que me livre!
No apuro: Ai meu Deu!
No susto: Deus do céu!!!
Na esperança: Se Deus quiser!
No consolo: Deus sabe o que faz. 


Mas a pior de todas é: Deus quis assim.

Deus meu, essa é de lascar! Fazemos de Deus alguém de costa larga. Beeeeeem larga. O culpado de tudo!

Embora isso não seja, nem de longe, uma exaltação ao nome do Senhor, parece-me que assumimos o quanto somos apelativos.
Apesar disso, não estamos nem um pouco preocupados com o que Ele pensa a nosso respeito. Nem se Ele pensa.
Afinal, Deus está tão longe, deve ser tão ocupado, imagina se vai se preocupar com essa bobagem de retribuição... E quando precisamos, Ele, na sua infinita misericórdia, dá aquela mãozinha básica.

Falamos muito em Deus, mas quando encontramos uma pessoa teocrática, que afirma confiar mais na palavra dEle do que na de homens, aí é piegas, falta de inteligência, e muitas vezes sofre preconceito.   

Lamentavelmente damos mais crédito a eruditos do que a Deus.

Acreditamos em Deus e até afirmamos 'ter fé', mas tudo tem que ser muito vago, superficial, nada de envolvimento, senão, a coisa fica séria demais e começa a envolver responsabilidades.

Não interessa muito o que Deus requer de nós, afinal, somos honestos, trabalhadores, bons pais, boas mães, bons filhos, bons vizinhos, e ainda de quebra, somos generosos e praticamos a caridade uma vez ou outra...

Na verdade, não fazemos nada de extraordinário, todas essas coisas é o dever de cada um de nós – e ainda somos beneficiados por isso.

Mas fazer mais do que isso??? De jeito nenhum! Estamos ocupados demais com nossos projetos de vida.

VIDA!

Vida é o que está envolvido, mas temos tempo para pensar nessas coisas. A morte tarda a chegar, então, vamos comemorar... Afinal, esse é o país do carnaval, e não demora, o samba vai esquentar...

O mais engraçado é que todos nós amamos a vida. Que atire a primeira pedra aquele que não gostar de estar por aqui. Gostamos de viver, mas ser agradecidos pela vida é outra história. Nem precisamos saber de como ela surgiu, isso é coisa pra cientista.

Viver o 'aqui e agora' é o que realmente nos interessa. Somos bastante crescidinhos e donos dos nossos próprios narizes para tomar nossas decisões sozinhos.  Somos autossuficientes, e tudo do que não precisamos é de um Deus tirano nos ditando regras. Afinal, quem garante que Ele sabe o que é melhor para nós?

Tenho uma amiga muito engraçada que assume fazer parte do grupo do “tô nem aí”. “Sou a legítima cumpridora de 1ª Cor. 15:32” (comamos e bebamos pois amanhã morreremos [mesmo!]) – disse-me ela.
  
Apesar de todo esse descaso da parte de uns, parece-me que há uma fome voraz de espiritualidade da parte de outros. Nunca na história desse país se fundaram tantas igrejas. Elas se proliferam, brotam que nem agrião no brejo. Há uma delas em cada esquina, com os mais variados nomes, equipadas com suas fórmulas mágicas para nos salvar dos pecados e nos qualificar para o paraíso (no céu).

Outro dia resolvi ir conhecer um hipermercado recém-inaugurado num bairro aqui perto. Fazia algum tempo que não passava pelo local e fiquei admirada com a quantidade de igrejas recém-inauguradas que vi: contei 7 delas em apenas uma rua!

Por mais que eu me esforce, não consigo acreditar que todas elas, diferentes em tudo, representam caminhos que levam ao mesmo Deus, como afirmam alguns. Isso seria o mesmo que afirmar que todos os mapas levam para o sul.
Ora, se eu quero ir para o norte, não vou seguir um mapa que me leva para o sul, isso me parece óbvio. Nesse caso, não vou entrar em nenhuma daquelas portas.
  
Deve haver um caminho, apenas um, que nos leve ao destino certo. Resta saber se estamos interessados em encontrá-lo.

Enquanto essas indagações povoam  minha mente, me pergunto se Deus não está com o dedo apontado bem na direção certa. Todos nós deveríamos estar profundamente envolvidos nesse questionamento. Deveríamos, mas não estamos. Tudo que fazemos é continuar falando dEle como falamos do “Seu Zé da quitanda”.

Falar de Deus com  as pessoas é saudável e necessário. É mais do que isso, é um mandamento. Além do mais, demonstra toda nossa gratidão pela nossa existência. Porém, existem critérios a serem respeitados. Jesus nos deixou um exemplo valioso quanto a isso quando enviou os setenta discípulos à diversas cidades na divulgação 'das boas novas do Reino'. Ele deu instruções claras de como deveriam se comportar: tinham que visitar as pessoas de casa em casa, dirigindo-se pessoalmente à elas. E, se determinada cidade não fosse receptiva, deveriam deixá-la imediatamente e não levar 'nem a poeira sob suas sandálias' – uma maneira poética de dizer que não deveriam insistir, ou pensar em voltar.

Por diversas vezes Jesus deixou claro que haveria os ouvintes e os não-ouvintes 'da palavra'.  Quem está bem preparado sabe 'separar o joio do trigo' para não parecer chato ou intrometido.

E nós, os que não queremos ouvir, vamos empurrando com a barriga e tocando a vida adiante.

Com muito obaoba, naturalmente!


14 comentários:

  1. sueli,
    que saudades de vc!!!
    que bom que voltou...
    sobre o post, é muito triste saber que as pessoas transformam DEus àquilo que são necessárias aos seus
    anseios... Sempre a nossa medida...
    não vim aqui falar de Deus, mas como somos egoístas a ponto de criar um Deus que nos "mime" e que assine em baixo nossas derrotas...

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  2. Esqueci de assinar, este é um outro blog que tenho, mas sou a veronicafukuda.blogspot.com.
    bjo gde

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  3. Oi Su!
    Gostei muito de teu texto, onde o ser humano parece que foi feito para pedir e esquece de agradecer. E isso não é novidade, se acontece entre as pessoas que se veem, que convivem, que trocam, imagina você se não aconteceria com Deus que não vemos, que sentimos. Mas Deus, que pretendeu fazer os homens à sua imagem e semelhança, em nosso livre arbítrio escapamos e esquecemos de sermos realmente seres mais bem dotados.

    Só uma coisa que discordei: o mapa - que você falou - é igual, sempre: ele nos leva para o norte, sul... O mapa não muda. Os 'caminhos' é que são inúmeros para se chegar ao destino. Quero dizer com isso que o ser humano procura seu Deus fazendo sua viajem pelos mais diversos caminhos, cada um de nós procura sua religião, sua seita, ou não procura nada, comunica-se direto como muitos fazem. Se não aceitarmos isso, estaremos discriminando o meio em que muitos procuram chegar a Ele. E discriminação não é o melhor caminho. Que as Instituições sejam falhadas, não discuto, mas elas existem e se propõe a 'conduzir' fiéis a Deus. Pelo menos é o propósito, tendo muitas falhas ou não. E, após muito tempo eu passei a ver isso com outros olhos, esta necessidade humana de ser conduzida. Isso não quer dizer que eu siga alguma coisa, você sabe bem o que penso. Mas o que penso não é o que vale para milhões.

    Basta olharmos as religiões do mundo que veremos milhões de fiéis reverenciando Deus - que deve ser o mesmo.

    Como sempre, Su, você falou e disse! E deixou o recado...
    Você conhece muito deste campo minado, mostrou neste texto.

    Beijo grande.
    Tais Luso

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  4. Sueli,

    Descobri seu blog agora, e já sou tua seguidora!
    Li os textos mais recentes e me encantei pela sua escrita muito direta, muito exata!
    Este texto, em especial, está cheio de verdades... Não há nem como comentar uma parte específica, pois vejo exatamente da mesma maneira que você: o nome de Deus, utilizado nas mais diversas situações, e todas elas em vão; o fato de lamentavelmente darmos mais créditos a eruditos do que a Deus; a questão das diferentes igrejas com suas doutrinas distintas e o dito popular de que todos os caminhos levam ao meso lugar - utilizo-me do mesmo exemplo dos mapas para ilustrar meus pensamentos a respeito!
    Enfim, sábia postagem de acordo com meus pensamentos. E independente do fato de compartilharmos de mesma visão, uma leitura excelente, que prende do início ao fim. Adorei!

    Beijos,

    Suzy
    http://suzyrhoden.blogspot.com/

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  5. Sueli, tem razão!
    Usamos o nome de Deus até em vão...
    Mas, melhor lembrá-lO , né?
    Amei seu comentário, lá em meu blog, que bom que gostou!
    Sempre gentil!
    Beijos, minha querida.
    Com grande carinho
    da
    Fátima

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  6. PARA TAÍS.

    Amiga!
    Desejei mostrar no meu texto que aqueles que querem realmente agradar a Deus, devem tentar descobrir o que Ele espera de nós, e que tipo de adoração ele aceita. Nesse aspecto nossa opinião é de pouco valor, pois não somos donos nem do nosso próprio corpo – não podemos, se quer, impedir que um fio de cabelo se solte e caia no chão. Somos imperfeitos, falhos, não somos capazes de decidir por nós mesmos. Não somos capazes de decidir nada à parte de Deus. Não podemos seguir às cegas por um caminho e esperar que iremos ao Seu encontro... Não é muito mais fácil e seguro ‘ouvir’ o que Ele tem a nos dizer?

    Essa filosofia de que ‘todos os caminhos levam ao mesmo Deus’ é um raciocínio puramente humano, com bases frágeis e sem fundamento. Não podemos deixar que a nossa falta de humildade nos leve a concluir que estamos certos e ponto final!

    Minha intenção foi levar as pessoas que desejam de coração agradar a Deus, a uma reflexão... Para os que pouco se importa, não tenho nada a dizer... Que sigam seus caminhos, ainda que iludidos ou não, buscando agradar a homens, ou a si próprios. Para esses qualquer caminho serve.

    Deus pensa, têm sentimentos, opiniões, desejos e muito AMOR por nós. Deseja-nos o melhor, que cheguemos a alcançar a felicidade plena. Ninguém melhor do que Ele para nos indicar o caminho, pois conhece as nossas necessidades melhor do que ninguém...

    É difícil imaginar isso para aqueles que não vêem Deus como uma PESSOA REAL, com sentimentos, e sim uma ‘energia’, um ser abstrato sem vontades...

    Ele nos dotou com o livre arbítrio (liberdade de escolha) que é um presente maravilhoso. Nisso também demonstrou todo seu amor por nós. Ele não deseja que O amamos, respeitamos, e O buscamos forçosamente como robôs, e sim por nossa livre e espontânea escolha... Temos que amá-Lo pelas suas qualidades, por tudo que Ele representa e fez por nós.

    Para tanto, não nos deixou na ignorância, nos declarou fatos, revelações, agiu, mostrou, e ainda declarou que ‘Ele é um Deus de ORDEM, e não de DESORDEM’... Não é desordem o que vemos hoje nos tais ‘caminhos’ que prometem levar até Ele?... Pior do que isso, o que vemos nas religiões atuais são jogos de interesses, espertinhos enriquecendo à custa dos ‘fiéis’ – alguns bem intencionadas, outros buscando prosperidade, mas todos acomodados... cito ainda as religiões radicais, lideradas por verdadeiros loucos que se espalha vertiginosamente em escala global. Essas sim são discriminatórias e preconceituosas... Só posso concluir que Deus está muito longe de tudo isso.

    Não, amiga! Não é toda forma de adoração que agrada a Deus! Muito menos todos os caminhos levam até Ele. O ‘mapa’ que ele traçou especialmente para nós só aponta para um caminho, todos os outros foram abertos pelos homens, e são tão imperfeitos quanto.

    Posso lhe assegurar que Deus anda muito decepcionado com a humanidade...

    Um beijo enorme, Brigadão pelo seu comentário.

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  7. Oi Su, adorei seu post!! Como viver sem Deus por perto né... Qdo me afasto dele, sinto um vazio tão enorme por dentro, que não aguento o peso... dá pra entender!! rsrs
    Oh... tô te enviando um link de um post do meu blog... gostaria que vc visse o videozinho que postei, ok!! Depois vc me conta o que achou, combinado?!
    http://cristinaramalho.blogspot.com/2010/08/eu-direita-de-casaco-verde-este-final.html
    bjos,

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  8. Amei!Por que não coloca no Crocantinhas mais adiante? bjs

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  9. Ahhhhhh, e sempre que postar, faça alusão a seus bogs!

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  10. Olá, Sueli, eu estou cada vez mais voltado para um silêncio meu com Deus. Meu diálogo tem sido muito direto. E evito ao máximo pedir, rogar algo a Ele. Procuro , no entanto sempre agradecer. Sigo aquela parábola: "faça a tua parte e eu te ajudarei". Meu abraço. Paz e bem.

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  11. Sueli, as pessoas querem fazer Deus avalista de situações que são absolutamente contingenciais, quando não,fazem a opção pela pacificação da própria consciência transferindo responsabilidade.

    É cômodo, porém desonesto, jogar a batata quente no colo do Pai ou de quem quer que seja!

    Êita geraçãozinha do oba-oba!

    Rogai por nós Senhor, míseros oba-obas!

    Prazer em conhecer teu espaço!

    Franklin

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  12. Oi Sueli, boa noite!

    Vi teu coment no blog da Taís Luso, sobre aqueles monstros que chamamos de barata! E vi tb que vc é valente soldado pra acabar com elas kkkk, no que teu dou super parabéns! Você MATAAA! Eu queria ser assim tb. rs

    Ótimo texto o seu. Vc escreve muito bem! Te sigo, querida.
    Parabéns pelo blog.

    prazer em conhece-la e até mais!

    super beijo com carinho

    Lu C.

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  13. Voce disse tudo em seu texto. Concordo ipsis literis (ao pe da letra, com as desculpas pelo exibicionismo de escrever em Latim rsrsrsrs) .
    Quanto as inumeras "igrejas" me parece que muitas são fundadas por oportunistas que não estão realmente engajados na melhora do ser humano.Estão muito mais preocupados e emgordar as contas bancarias la deles.Uma lástima!

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  14. Olá, Sueli!
    Vi o seu Blog e achei uma graça com textos incríveis. Já sou seguidora.
    Convido você a conhecer Sapatinhos da Dorothy, se gostar me siga também para trocarmos ideias.
    Abraço,
    Sandra

    Sapatinhos da Dorothy

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Sejam bem vindos! Sintam-se a vontade. Comentem, digam o que pensam. Podem rodar a baiana, só não cutuquem a onça com vara curta, ok?... rs