“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

24 de out. de 2010

O "bom" da feijoada



Antes de tudo, quero agradecer imensamente a todos os amigos que comentaram nos dois últimos artigos que postei!

Foi bom demais poder notar que os comentários partiram de pessoas que realmente leram. Agradeço, também, os e-mails prá lá de especiais que recebi. (houve dois nada especiais rsrs). Fiquei imensamente feliz e aliviada ao mesmo tempo com o tipo de sentimento que despertei na maioria dos leitores.

De início, confesso que fiquei um pouco receosa em abordar um tema tão profundo como esse. Sei que quando falamos em Deus com as pessoas, e ainda por cima, o colocamos no centro de tudo na qualidade de Criador, é impossível agradar a gregos e troianos – mesmo dentre aqueles que afirmam acreditar Nele. E como era de se esperar, foi isso que aconteceu. Mas com uma ínfima minoria, felizmente. Além do mais, corre-se frequentemente o risco de sermos mal interpretados, ou tachados de pregadores chatos, ou ainda, fanáticos.

Não é o meu caso, não sou fanática, nem mesmo uma pessoa religiosa, eu sou. E também, não frequento e nem levanto nenhuma bandeira dessa ou daquela igreja.
Lembro ainda, que um dos sinônimos da palavra “pregar”, é “abordar”. Nesse sentido, todos pregamos, quase sem exceções.

Gosto de escrever sobre bobagens que tornam a vida mais leve, mas também gosto de escrever sobre temas fundamentais que são frutos de muita pesquisa. Há quem afirme que são temas polêmicos e isso já é uma polêmica por si só, pois as opiniões divergem muito quanto a isso. Encaro temas reflexivos como algo saudável, e nesse caso, por que haveria eu de deixá-los de fora?

Um dos e-mails que recebi, foi de um amigo muito especial com o qual venho me correspondendo. Nem mesmo sei se ele pode avaliar a alegria que senti ao ler as suas palavras! Ele escreveu em parte: “Em relação aos (seus) posts a minha opinião sincera é que podem ajudar pessoas sinceras de mente aberta e com ausência de preconceito a avaliar os assuntos sob um outro prisma.”

Sua opinião sincera me levou a concluir que, mesmo de uma maneira inconsciente, escrevi aquelas matérias endereçadas à pessoas especiais. E de pessoas especiais, como escreveu certa amiga, a blogosfera tá assim ó.

Mas tem aquelas “não tão especiais ”. É sobre essas pessoas que eu quero falar agora.

Por muitos anos tenho aqui em casa uma “secretária” que não deixa meus dias se tornarem monótonos. Eu adoro suas histórias repletas de amenidades, mas que nas entrelinhas, sempre trazem um fundo de verdade. Como sou uma pessoa reflexiva, e isso não tenho como evitar, não deixo passar NADA em brancas nuvens.

Volta e meia ela me dizia bem assim mesmo: Sabe, Dona Sueli, eu odeio gente que ‘se acha’.

Outro dia, porém, eu perguntei-lhe: E o que é ‘gente que se acha’?

A resposta foi inusitada: É gente que se acha o paio da feijoada. rsrs

Imediatamente me lembrei de uma amiga do meu tempo de colégio: essa certamente se acha o paio de todas as feijoadas do mundo! Eu já tinha ouvido não sei onde uma frase bem parecida: “Se eu não posso ser o paio, o feijão também não quero ser”rsrs.

Mas a explicação tão peculiar da parte dela me fez entender que ela falava de arrogância.

A definição para arrogante, segundo alguns dicionários, é: soberbo, altivo, orgulhoso, insolente e pretensioso – características próprias de pessoas que se julgam melhores em tudo e nos olham sempre de cima, numa posição de superioridade. Elas simplesmente não conseguem enxergar nos outros qualidades como a inteligência, o conhecimento, a sabedoria... E se alguém demonstra essas qualidades ao expor suas idéias, já é uma ofensa. A hipotética possibilidade de penetrar nas idéias alheias, então, é um cavalo de batalha.

Mas é bom não confundir arrogância com determinação.

É interessante notar que no dicionário da língua portuguesa, a palavra “determinação” tem como um dos sinônimos a palavra “coragem”. Uma pessoa corajosa jamais irá encarar uma mudança de idéia como fraqueza ou falta de inteligência, e às vezes pode ser um acerto e não um engano.

É claro que existem critérios rígidos a serem seguidos para mudarmos nosso conceito sobre esse ou aquele assunto importante. E quanto mais importante for, mais cuidadosos devemos ser. Há de se fazer cautelosa investigação fundamentada através da lógica – e saber fazer comparações. Além de seres pensantes, somos dotados de muita sensibilidade. Basear nossos conceitos em fatos incontestáveis, e não em teorias, pode ser fundamental na maneira como vamos conduzir as nossas vidas – tão passageiras.

Mas a determinação tem que vir junto com a humildade e nunca numa parceria com a arrogância. Só assim poderemos manter nossa mente aberta e ter um “coração inclinado” a fazer ajustes na nossa maneira de pensar, se for o caso. Foi exatamente isso que aconteceu comigo: fiz ajustes significativos na minha maneira de pensar que foi muito além de uma mudança de opinião banal como acontece corriqueiramente.

Quero deixar claro aqui que sou totalmente a favor da liberdade de expressão. A pluralidade de opiniões é que nos fornece a matéria prima suficiente para uma avaliação se estamos, ou não, no caminho certo. Entretanto, a tal da arrogância tem que estar fora desse quadro. No lugar dela devemos colocar a “peneira” – e usá-la com sabedoria. Do contrário, não há pluralidade que dê jeito. Não há esforços que valha a pena, por mais bem intencionados que sejamos. Por que tem a questão do preconceito com aqueles que pensam de maneira diferente.

O arrogante não tolera pessoas que pensam diferente dele, e quer contestar a qualquer preço, mesmo que isso contrarie os fatos. Ele coloca no automático e segue em frente e passa por cima da reflexão. Não estou falando em impor opiniões, falo em propô-las e abrir um leque saudável para debates construtivos; e de preferência, que sejam em alto nível. Podemos perfeitamente tratar tudo como uma feijoada light – como a que tenho feito para o meu marido com problemas cardíacos, onde o paio fica de fora... Porém... pessoas que se acham “o paio” da feijoada dificilmente irão aprender a ouvir “as batidas do coração” dos seus semelhantes e entendê-las. Agem como se estivessem ouvindo uma música em idioma desconhecido: faz “cócegas aos ouvidos”, mas não a compreende.

Ouvir, nesse sentido que eu coloco, não significa de maneira nenhuma, aceitar: significa simplesmente ser “o feijão”.

Acho que agora eu estou falando de respeito. Mas não há mais respeito quando tudo se torna tão competitivo como uma espécie de queda de braços. Isso pode resultar numa batalha onde só há perdedores.

A “minha feijoada” não é um prato que se come frio como a vingança. É um prato que se come quente, como aqueles que a gente sabedoria nas noites frias de inferno: aqueles que aquecem até a alma. Pelo menos é isso que penso oferecer com minhas “escrivinhações”.

E, principalmente, gosto de saber que os amigos não se sintam obrigados a comentar os meus posts. Da mesma forma que eu não me sinto em comentar os deles. Se comento, é por que gostei muito ou tenho algo de bom a dizer. Caso contrário, não comento e saio como se nada tivesse acontecido. Às vezes extrapolo nas piadas, mas esta sou eu – transparente e verdadeira.

É com muita transparência que compartilho das minhas idéias com vocês.
Mas eu posso estar redondamente enganada, e se estiver, eu vou acabar descobrindo. Afinal, me considero o feijão e não o paio.

10 comentários:

  1. Interessante o texto, mas muita vezes não é simplesmente não suportar pessoas assim, é não ser uma pessoa assim.

    Pois muitas discussões acabam indo para um defesa de ego e não simplesmente apontar as falhas e acertos entre as idéias das pessoas.

    Fique com Deus, menina M. Sueli Gallaci.
    Um abraço.

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  2. Oi querida!
    Qto tempo não passo por aqui.
    E logo de cara posso dizer que vc está certíssima! Nem só de coisas boas se faz um blog nao é?!? Temas polêmicos nos fazem refletir um pouco mais e aprender com as opiniões dos outros, isto se (e só se) o leitor não se achar o tal 'paio na feijoada'! rsrs
    Um beijão!

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  3. Amiga Sueli, quero começar dizendo que, é impossível ler os seus posts e não comentá-los. São realmente incríveis, vc sempre propõe suas idéias e deixa um espaço para ser discutido, analisado, cada um a sua maneira...
    Adoro passar por aqui..ri demais da sua secretária...kkkkkkkkk

    beijosss

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  4. Oi Sueli,
    Adorei este seu post sobre arrogancia, e eu em particular me sinto mal perto de pessoas arrogantes, eu automaticamente me afasto, pois nao consigo colher nada de interessante em uma pessoa que possui o poder em primeiro plano.
    Eu vejo o arrogante assim, ele parece um trator que tudo que esta na sua frente o impedindo de ir avante ele esmaga, despreza, destroi, entao eu afasto automaticamente pra nao sofrer maiores danos, kkkkkk Na minha terra dizemos: Metidos a Besta! rsrsr

    Voce esta certissima em tudo que escreveu...Porque uma pessoa determinada e humilde nao é capaz de ferir um outro ser para chegar em algum lugar.
    Eu ja conheci pessoas que pareciam humildes e que no decorrer da vida se transformou por completo se tornando um completo arrogante por nao saber controlar seu ego quando a um certo ponto da vida deu uma crescidinha, srsrs
    O Ego, ou seja o Super Ego é capaz de tirar qualidades existentes em uma pessoa quando sao fracos de mente, nao conseguem se equilibrar...
    Um assnto que tenho certeza que se voce abordasse faria muito sucesso escrito por voce, seria falar sobre o Ego desiquilibrado em um ser.
    Eu tenho um livro com pouquisssimas pags que adoro.. O titulo é:Como afrontar bem a vida, escrito em italiano e na verdade é um guia para o caminho da autonomia, segurança e satisfaçoes sem prejudicar pessoas e nem a si mesma. Muito bom e la fala de Ego e diz que nos temos tres personagens dentro de nos: O pai(super Ego), O adulto(O Ego) e a criança(Id) elas devem ser equilibradas, pois se uma se altera perde todo o equilibrio causando danos àquela pessoa e assim ou fica humilde demais, ou muito arrogante, ou desinteressado, e por ai vai... So Freud explica, kkkkkkkkkkkkk

    Sueli eu adorei seu post la no meu conto e e desculpe de nao ter mencionado seu nome quando faleisobre como e porque tudo aquilo me incentivou a criar um conto, mas eu e Veloso decidimos continuar a Estoria fazendo uma trilogia tipo (Harry Poter) kkkkkkk As mais Bela Estorias de Morceguinho, rsrs e voce estara dentro da estoria... Voce vai se deslumbrar ao ler o que andei inventando aqui, rsrsrs
    Bjus

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  5. Minha Queridíssima amiga Aymeé!

    Achei interessantíssimo esse negócio do ego, o super ego e o ID. Vou me aprofundar mais no assunto. rsrs

    Aqui nós tbm usamos essa expressão "metido a besta" rsrs. Meu pai dizia: "fulano parece que tem o rei na barriga" hahaha

    Sobre os morceguinhos, eu só disse que fiquei feliz por eles terem chegado tão longe... São importantes agora, andam pela Europa. Afinal, eles tem asas, né rsrs

    Um bjo grade amiga, grazie per il tuo commento!

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  6. Brilhante Sueli! Brilhante! O jeito como você colocou as coisas foi de uma clareza e objetividade que preciso reconhecer e aplaudir. Quanto aos arrogantes ( altivos ) estão por toda parte. Não poderiam faltar na blogosfera. Mas como você disse; há mecanismos para neutralizá-los. Filtrá-los. elgá-los a insignificância deixando que esperneiem e se calem de cansaço. Basta não entrar no jogo infrutífero. Basta ignorarmos.


    Achei extraordinária a frase: "Mas pessoas que se acham “o paio” da feijoada dificilmente irão aprender a ouvir melhor “as batidas do coração” dos seus semelhantes e entendê-las. Agem como se estivessem ouvindo uma música em idioma desconhecido: faz “cócegas aos ouvidos”, mas não a compreende."

    Na vedade nem sabem se ouvem as próprias batidas de seu coração. É bem isso.

    Gosto de ler teus textos. Um dia alguém me disse que adorava escrever, mas que não conseguia... Chegou a sorrir e me dizer que talvez fosse algum tipo de dislexia.
    Por aqui não tem nada disso. Trata-se de boa leitura para quem está do lado de cá como eu. E sabe por que?
    Por que aí tem alguém que escreve muito. Muito bem!

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  7. Su, concordo de A a Z com seu texto. Mas vou pegar o lado dos ‘comentários’, de comentar por comentar, apenas. E aí vem junto a arrogância, o prazer por incomodar, por discordar, somente.

    A maioria de nós que escreve textos reflexivos, se propõe a não faltar com a verdade, pelo menos com a ‘nossa’ verdade. E isso é que deve se levar em conta quando deixamos um comentário – muitas vezes ótimos comentários, excelentes. Comentários que nos impulsionam a cada vez melhorar mais a qualidade do que escrevemos.

    Mas eu entendo que não existe somente a minha verdade: existe a sua e a de muitos, pois somos seres completamente diferentes. Mas isso, amiga, é algo muito difícil, uma vez que entendemos que exista somente uma verdade: a nossa. E isso não é verdade.

    O que existe são pontos de vista diversos. E que devemos dar chance que cada um tenha o seu raciocínio ao escrever, mas nem sempre é assim na blogosfera.

    Veja bem, construir um texto pode ser o resultado de um longo trabalho, de muitos dias de pesquisa - como seu último texto-, um caminho longo e árduo.

    Destruí-lo pode ser obra de minutos. Pelo menos para pessoas que talvez não estejam tão qualificadas para tal. Concorda? Vale a pena alguém comentar um texto que não domine completamente? Isso, Su, acho algo extremamente péssimo na rede, estressante, desgastante.

    Também sou a favor da liberdade de expressão, mas quando tem certo embasamento. Um lado que possa acrescentar, ajudar, estimular. O lado mesquinho, o lado arrogante que sua secretária falou: ‘as pessoas se acham’ tá certo: é o lado falso do ser humano.

    A honestidade deveria ser o princípio de tudo. Falta um pouco de generosidade em todos nós.

    Grande beijo.
    Tais luso

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  8. E eu assino embaixo de tudo o que você disse, Sueli. Se não posso dar uma contribuição efetiva de apoio ou elogio, eu prefiro não comentar. Aí, é, ou porque não li, ou porque não gostei. Ficar disseminando discórdia não é a minha praia também não. Quanto a esses que "se acham" como disse a sua secretária, a melhor definição eu ouvi de um amigo do interior (na minha cidade) outro dia: " não coloque uma sela de marca num cavalo pangaré. Ele pode achar que virou manga larga marchador. ! hahahaha! Abração. paz e bem.

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  9. Oi Sueli eu estou dando uma passadinha aqui veloz para te convidar a participar de um desafio.
    terça-feira, 2 de novembro de 2010
    Desafio (Joguinho pra gente)la no meu blog...

    Eu achei legal e resolvi te indicar ^^
    Não se sinta na obrigação de responder. Mas é sempre bom ficar sabendo um pouquinho mais sobre nossos amigos blogueiros ^^
    bjo

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  10. Amiga gosto de tudo que você escreve gosto da diversidade de pensamento e ponto de vista isso é muito salutar. Só não gosto de pessoas que não só não aceitam opinião diferente como não aceitam que as pessoas tenha opinião. Fiquei meio preocupado sobre a parte de comentário sou um péssimo comentárista e muitas vezes posso ser mal interpretado pois o comentário pode fugir totalmente do contexto ou pode soar como colar comentário ou comentar sem ler mas é uma mania de quando visito um blog de quem me ajuda a carregar o Baú fico chateado de sair sem dizer pelo menos um oi! Um abraço amiga.

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Sejam bem vindos! Sintam-se a vontade. Comentem, digam o que pensam. Podem rodar a baiana, só não cutuquem a onça com vara curta, ok?... rs