“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

21 de mai. de 2012

VERMELHO



Sei por que voltas
De tempos em tempos
Como uma pétala que se solta
Trazida pelo vento.

Porque sou a única para quem podes voltar
Depois que todos os abandonos te esgotaram.

E sempre voltas...

Serão as amarras soltas
De um tempo tão distraído
Que te lança para o verbo
Que conjugamos por caminhar?

Será loucura, será o quê?

Pois trago na alma
O sorriso vadio da esperança,
De quem ficou
No silêncio dos covardes.

Sou brisa prometida,
Tempestade anunciada,
Mas nunca provada.

Sou a ira da partida
Quando o momento
É de chegada...

E mesmo assim, sempre voltas...

Voltas em busca do vermelho
Que é vivo,
Mas morre
No sangue (per)vertido?

Talvez.

Voltas pelo dito,
Redito,
Não dito,
Relido,
Reescrito,
Maldito,
Mas voltas.

E eu espero.

Como Dulcinéia
Debruçada à janela,
Perdida em pensamentos
Galopando em ventos.

Sentindo o sal.
Das lágrimas...

- sueli gallacci

3 de mai. de 2012

Quando um segundo se torna eterno...


Há certos momentos na nossa vida que ficarão guardados eternamente no nosso coração figurativo que é a mente. E nós sabemos que de sobressalto, um cheiro, uma imagem, uma palavra, ele será trazido à tona e reviveremos tudo novamente...
Como escreveu Drummond, eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata....

Terça feira, 13 de março passado, por volta das 7:30h da noite.

Lembro-me bem do horário, pois momentos antes eu havia visto no relógio do computador e tomado um susto. É sempre assim, paro o que estou fazendo e resolvo dar só uma passadinha para checar os novos emails e nem percebo que o tempo passa...
Bem, acho que não sou a única a perder a noção do tempo quando estou em frente ao monitor. Deixar o computador ligado o dia todo e ir checar a todo o momento, também não.

Aquele teria sido um dia bem normalzinho, sem novidades, mas o telefone tocou.

Eu já havia saído do computador e estava no meu quarto prestes a entrar no banho. Atendi ali mesmo sem poder ver o número no visor, pois estava sem os meus óculos:

- Alô?
- Mamãe?

Não era o horário de ela me ligar e de inicio estranhei um pouquinho.

Desde que saiu de casa para morar sozinha há oito anos, ela me liga todos os dias pontualmente às 22h para me dar boa noite. Fazemos um breve relato de como foi o nosso dia e despedimo-nos com beijos e um “fica com Deus”.

- Oi meu amor, tudo bem?

Eu tinha um segundo pela frente de aflição até que ela me respondesse “sim, está tudo bem”. Depois, ela diria que só estava ligando mais cedo por que iria sair para jantar com o namorado num lugar barulhento e difícil de falar...

Mas era terça-feira e definitivamente não era dia da costumeira baladinha. Não para ela, muito organizada, de vida regrada e responsável. Além do mais, no domingo durante o almoço aqui em casa, ela tinha se queixado do cansaço que é procurar apartamento para comprar. Com casamento marcado, ela e o namorado pretendiam se mudar para um maior o quanto antes...

Ou talvez, quisesse me contar algo do meu interesse que havia descoberto na internet, e tinha que ser naquele momento, pois sabia que ultimamente eu vinha desligando o computador mais cedo... Ela me passaria o endereço do site e eu abriria a página. Ficaríamos por quase uma hora explorando tudo simultaneamente e lendo os textos em uníssono...

Mas não foi isso que aconteceu. Ela me respondeu com outra pergunta:

- Você está sentada?

Essa pergunta obviamente me colocou em estado de alerta. O que viria no segundo seguinte?... Que era uma notícia eu já sabia, mas seria boa ou ruim?

É impressionante a mente humana! Admira-me a capacidade que temos em reviver tantos acontecimentos num lampejo de tempo... O momento em que a vi pela primeira vez passou pela minha cabeça como um relâmpago.

Eu estava esgotando minhas últimas energias para me manter lúcida e tentava levantar a cabeça para ver o meu bebê que acabara de nascer.  Foi um parto com agravantes e eu só desejei duas coisas naquele momento: saber o sexo e dar uma espiadela antes de apagar de vez. A enfermeira postada atrás da minha cabeça disse “é uma menina”, enquanto outra a levantou ainda com o cordão para que eu pudesse vê-la.
Assim como uma câmera fotográfica no instante do clic, tive apenas um segundo para registrar tudo na minha memória e eternizá-lo. Fiz um esforço descomunal num poderio que só as mães possuem e vi até a pinta que ela tem na coxa esquerda. Se tivesse cabelos acho que os teria contado um por um!

Agora, eu já sabia que outro daqueles segundos-eternizantes era iminente e tinha que aguçar todos os meus sentidos para vivê-lo intensamente.

Eu chamaria isso de pressentimento, ou intuição materna, mas foi a nota de felicidade no timbre da sua voz que me levou a adivinhar a boa notícia.

- Espera um pouco que eu vou trocar de aparelho – disse eu.

Foi uma desculpa para eu apanhar o telefone sem fio. Não soube ao certo por qual motivo aquilo me pareceu importante naquele momento. Mas eu descobria depois.

- Pode falar agora. Não estou sentada, mas estou pronta.

... e estava mesmo, mais do que pronta. Sonhava há anos com aquela noticia!

- Eu estou grávida!

No segundo seguinte eu estava pulando e gritando como uma louca pela casa inteira!!!  Até chegar ao escritório do meu marido completamente nua...