Arte digital
Tem pessoas que adoram mudar os móveis de lugar. Outras, a decoração da casa, ou parte dela; anualmente!
Na semana passada uma amiga me ligou pedindo dicas de decoração. De novo??? Pensei.
Depois que desliguei o telefone, girei minha cadeira e percorri os olhos pela minha sala. Daqui do alto do mezanino onde fica o meu escritório-atelier, tenho uma visão ampla. O que vi foi a minha mobília morando nos mesmos lugares de sempre, desde que nos mudamos para essa casa. Até as cadeiras me pareceu que voltam sozinhas para os seus lugares.
Naquele momento constatei que mudanças me assustam um pouco. E que quando me bate aquela vontade de renovar, eu mudo a cor do esmalte da unha. Às vezes mudo a cor e o corte dos cabelos.
É engraçado isso porque no meu trabalho uso de toda minha ousadia. Vivo em constante mudança: raramente pinto duas obras no mesmo estilo, sequentemente.
Minha grande descoberta foi que a arte é ilusão e vida real é outro departamento. Quando não gosto do que eu pinto, eu desfaço, apago, refaço, descarto... Isso não implica em consequências.
Bem, mas quando muda o compasso da música, temos que mudar o passo da dança.
Na vida também é assim e ninguém pode fugir disso. Chega aquela fase que as coisas vão afunilando para uma mudança, que é inevitável, pois não somos mais capazes de sustentar o peso das escolhas que fizemos quando éramos mais jovens, e portanto, com toda a reserva de gás para queimar. Não se trata de arrependimentos pelas escolhas, e sim da sensação de já tê-las vivido plena e completamente.
Quando chega o momento que tudo grita por renovação, temos que ser capazes de ouvir, ou corremos o risco de perder a oportunidade de trocar o medo pela vida mais leve e prazerosa.
O medo bloqueia a nossa capacidade ponderativa e ainda sopra mentiras nos nossos ouvidos. Quando optamos pelo desconhecido é evidente que tudo pode não sair como o calculado, mas quem disse que viver é ciência exata?... A vida é como uma roleta e jogamos os dadinhos todos os dias. Se ganha e se perde, mas se estamos vivos, significa que ainda estamos no lucro.
Tudo que temos que fazer é dar uma chance para o inesperado, e é bem provável que ele já seja nosso velho conhecido de sonhos adormecidos.
Na minha primeira gravidez, disse ao meu marido em tom de brincadeira que estava com desejo de comer pitangas azuis. Digo agora, 36 anos depois, que venha o novo!... E que ele tenha o sabor de pitangas vermelhas mesmo, pois hoje, mais sábia e com mais maturidade, me contento com menos.