“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

12 de jan. de 2011

É proibido proibir


Quem de vocês moram em condomínio?... Eu moro.
É bom, não é mesmo?... Segurança nota dez, vivemos cercados de pessoas do mesmo nível cultural/sócio/econômico e não nos sentimos um peixe fora d’água.Tudo parece perfeito...
Mas nem tanto!

Todos nós, quando decidimos ir morar em um condomínio, seja ele vertical ou horizontal, devemos estar cientes que vamos dividir espaços. E dividir espaços com um bando de gente desconhecida não é fácil. As opiniões divergem, é um bate-boca sem fim, e, se por ventura, você não pôde comparecer àquela assembléia extraordinária, os que compareceram decidirão por você.
E não adianta reclamar depois.

Foi isso que aconteceu aqui no condomínio onde eu moro. Eu até me considero uma pessoa tolerante, me relaciono bem com meus vizinhos e não saio por aí comprando briga por qualquer motivo banal. Ando mais na fase de plantar a paz entre os homens.

Até entro numa enrascada ou outra, mas nada que não se possa contornar sem prejuízos mútuos. E prejuízo, aquele bem literal ($$$$$$) é coisa séria, ninguém gosta de se sentir lesado, enganado, passar por idiota. É desse prejuízo que quero falar.

Tá na moda aqui por essas bandas a tal da multa: multa do lixo, multa do jardim mal cuidado, multa do carro estacionado na calçada, e por aí vai... Todo mundo sabe (mas finge que não sabe) que isso nada mais é do que uma manobra que arranjaram para angariar fundos e tapar o rombo da administração anterior.

Eu, de minha parte, seguia fingindo também, até porque não compareci a tal assembléia da multa. Decidimos, meu marido e eu, que não participaríamos mais das assembléias onde ninguém se entende, e que se tivéssemos que brigar, que seria na justiça. Mas tudo tem um limite. Até a minha paciência.

Poucos dias depois da tal assembléia eles distribuíram placas por toda parte, de fato não conseguimos andar cem metros sem tropeçar numa delas. E todas começam com a palavra “proibido” e finalizam com a frase “sob pena de ser multado”.
A mais engraçada é a placa de "proibido alimentar os animais silvestres"... Vai dizer isso aos macacos!
Ou, ensinem eles a ler.

Outro dia recebi a multa do cão solto. Entre outras baboseiras, estava escrito: “... por colocar em situação de risco a vida dos condôminos e teretetê, teretetê, teretetê”... e lá embaixo, em negrito, o valor da multa: R$98,00.

Ah, sim, foi o Bernardo – o meu cão – que fugiu para dar uma voltinha. E eu pergunto: qual o risco? Ele só pesa 1,300kg!!!

Já fui multada algumas vezes por excesso de velocidade, mas devo esclarecer que concordo com o limite imposto que é de 30km/h. O que eu não concordo é com o nosso radar: o olhômetro do "severino" fofoqueiro da segurança. O que ele quer é ver o circo pegar fogo!

Piadas à parte, a multa do cão solto esgotou a minha paciência e resolvi me vingar. Só tinha que esperar o momento certo. Ele veio mais rápido do que eu imaginava.

Minha casa é a última de uma rua sem saída, depois tem uma área de reserva de mata que se estende até o final da rua onde há um retorno. Mas quem retorna lá no final da rua? Ninguém! Todos acham penoso andar mais alguns metros e retornam aqui mesmo, na entrada da minha garagem, esmagando meu gramado. Os mais barbeiros destroem meu jardim.

Eu vinha tolerando isso calada desde que moro aqui, até que no mês passado um caminhão basculante carregado até os tufos despejou uma avalanche de terra no meu jardim, sufocando minhas Marias-sem-vergonha.

Claro, tomei as dores delas, mas tive uma atitude descente: fiz uma reclamação por escrito à administração e dias depois recebi um email frio, impessoal, cheio de formalidade como resposta. Em outras palavras sugeriram que “eu me entendesse com a empresa que cometeu a infração”.

Meu primeiro impulso foi responder que “a empresa” se resume ao motorista do caminhão, e só! Mas me contive. Mandei fazer a minha placa particular e plantei bem fundo no meu jardim: PROIBIDO RETORNAR NESSE LOCAL – SOB PENA DE LEVAR UM TIRO.

Não deu outra: Fui multada!
Motivo: Ameaça aos condôminos.

Pelo menos mandei o meu recado.