Minha intenção era escrever um poema que retratasse com bastante leveza a minha idade madura . Planejei tudo cuidadosamente: começaria com a manjada frase “Cada idade tem a sua beleza” e, depois, daria um enter para a linha de baixo e começaria a descrever toda essa beleza...
Foi aí que o bicho pegou.
Na boa, gente, não consigo ver beleza nos meus cabelos ficando cada vez mais finos e mais ralos... Nem na minha pele ganhando um aspecto amarrotado igual à minha blusa de viscose quando sai do varal. Vai chegar a hora que vou ter que substituir o Botox pelo ferro de passar. Desculpem-me, mas não consigo ver beleza nessa triste realidade!
Decidi deixar a beleza de lado e falar das vantagens de ser uma mulher madura. Afinal, nós da idade madura, carregamos um bocado de experiências nas costas... Nesse ponto reli o texto e substituí experiências por 'inutilidades adquiridas'.
Do que nos vale tanta experiência se ninguém nos ouve mais? A essa altura da vida, os filhos já tomaram seus rumos e voam sozinhos. Ou, se estatelam no chão, também sozinhos.
E os amigos? Podemos passar toda nossa experiência de vida pra eles...
Bem, nossos amigos certamente fazem parte do clube, e como dizia meu pai, burro velho não aceita cabresto.
Ainda pensando no poema, fui navegar pela internet em busca de inspiração. Caí numa crônica com uma visão tão pessimista da 'coisa' que traumatizei. Logo de cara me deparei com as palavras: artrite, artrose, esclerose, catarata e o escambau!
Fiquei com depressão. Sai desse corpo que esse corpo não te pertence...
Respirei fundo e insisti na leitura; cheguei ao final onde estava escrito “envelhecer com saúde”.
É isso! – pensei animada – vou falar de saúde!
Bati daqui, bati dali, e não consegui juntar as palavras 'envelhecer' e 'saúde' na mesma frase. Minha razão inimiga cochichava no meu ouvido que quando entramos na idade madura estamos caminhando à passos largos em direção a... Vocês sabem.
Agora, começo a imaginar um diálogo mais ou menos assim:
- Pobrezinha!... Ela morreu de quê?
- De saúde. Tinha tanta que não aguentou...
Definitivamente envelhecer e saúde são palavras opostas. Minhas fichas começaram a cair quando meu oftalmologista passou a lembrar do meu nome e sobrenome. Quando tive que mudar meus remédios de uma caixinha para um armarinho maior. Quando desci minhas tralhas para o andar de baixo. E quando os meus dias passara a ter 12 horas.
Um pensamento passa como um flash pela minha cabeça: se estou na idade madura, pela lógica o que vem depois é a idade podre... Jesus, joga a boia!
O irônico dessa história é que a minha idade mental não bate com a idade da minha certidão de nascimento. No meu íntimo ainda me sinto com 18 anos! Ainda insisto em dançar I Will Survive nas festas e, volta e meia, vou pra balada com meu filho. Ainda uso os mesmos modelitos de roupas que as minhas filhas usam e vou até às últimas consequências para me equilibrar num salto quinze.
Tive um aluno adolescente que me chamava de 'minha-profe-bicho-grilo'. Ele vivia dizendo que falávamos a mesma língua. Eu de fato gosto da companhia dos jovens e me sinto a vontade entre eles. São nesses momentos que eu esqueço que envelhecer é mesmo uma bosta, como disse Jorge Amado. Mas com jeitinho vou vivendo de ilusões numa reflexão adiada.
Quando é que eu vou envelhecer interiormente?... Bem, isso eu ainda não sei. Essa ficha ainda não caiu.Um dia vou começar a me sentir ridícula e inadequada. Um dia. Não tem que ser agora.