Outro dia assisti na TV uma entrevista com um psicanalista de animais – Já existe isso, tempos modernos... Eu logo fiquei imaginando um cachorro de rua deitado num divã dizendo ninguém me ama, ninguém me quer...
Mas não é bem assim que acontece a psicanálise. O “Doutor” observa o comportamento do bicho e tenta descobrir as causas do desvio de personalidade. Ele disse que quase sempre chega à conclusão que a culpa é do dono, ou seja, se eles vão ser dóceis, violentos ou agitados, tudo depende de nós. Os animais também são produtos do meio.
Diante dessa revelação, devo confessar que fiquei um tanto preocupada, pois deve ter alguém com sérios desvios de comportamento aqui na minha casa. Só isso explica os bichos aloprados que eu tenho.
A começar pela bela Vera Lúcia, uma legítima Yorkshire de pelos fartos, macios, esvoaçantes, porte elegante, olhos faiscantes e etc., etc., etc...
Quando ela chegou à idade adulta, me deslumbrei com tanta beleza e meus olhos saltaram em cifras ($$$$) imaginando os lucros que ela me daria com seus filhotes. Tratei logo de lhe comprar um marido de fina estirpe com pedigree internacional. O nome dele é Bernardo, um maníaco por tornozelos de carteiro. Tenho que dar um desconto, pois é o único lugar que ele alcança. Isso lhe rendeu o apelido de “fura-meias”. (pelas mordidas, viu, gente, não levem na maldade).
Entretanto, as minhas cifras foram para o ralo quando descobri que ela, a minha bela e doce Verinha, era mesmo apaixonada pelo Bartô - o gato.
Não tive alternativa, a não ser comprar outra esposa para o Bernardinho e aliviar meu prejuízo: A Isabelle (Belinha para os íntimos) que também tem lá suas esquisitices, mas o enlace se consumou.
E por falar no gato, o nome dele é Bartolomeu, mas bem que poderia ser BartoloMALA, ô gato inconveniente, viu!... Nós o chamamos simplesmente de Bartô. Ele é um persa azul-cinza gigante, com muito pelo e nenhum caráter. Ele é convicto de que a casa é dele e nós somos os intrusos. E como incomoda! Sobe em todos os lugares e volta e meia me dá um tremendo susto pulando em cima do meu teclado hdg87#@!(??5hd4*¨432@dbg)+#.
Certa vez, ele virou a tela do meu computador e eu passei três dias com torcicolo até descobrir como desvirava. E se pego pesado na bronca, ele se vinga: entra no meu ateliê e imprime todas as suas digitais nas minhas pinturas molhadas.
É um entra-e-sai infernal o dia todo! Mia pelo lado de fora pra entrar, depois, mia pelo lado de dentro pra sair... Já pensei até em contratar um porteiro só pra ele.
E como se não bastasse, sofre de uma profunda crise de identidade, pois volta e meia se comporta como cachorro: atende pelo nome e ainda balança o rabo. De uns tempos prá cá, só come ração canina e quando insisto com a dele, faz aquela cara de merci, tenho nojo.
E ainda tem os presentes de grego que ele caça no mato e traz para nós. Tem todo o cuidado de depositar bem no meio da sala de estar. Na hora de sacanear, ele é gato.
Mas devo dizer que o Bartô não é lá muito esperto. Esperto mesmo é o Juca - o meu tucano. Um dia eu o encontrei desmaiado no piso do viveiro. Entrei em pânico e o reanimei. Dias depois, o vi despencar do poleiro e ficar lá, duro, de perninhas pro ar parecendo morto. Entrei em desespero e passei a procurar como louca por um veterinário de aves.
Não foi necessário. Logo descobri que ele se fingia de morto toda vez que o Bartô se aproximava do viveiro. Confesso que senti uma pontinha de satisfação ao descobrir que alguém estava se vingando do gato-mala por mim. Hehehe.
O que o Juca tem de esperteza, o Chicão tem de rebeldia. Ele é um Jaboti com cerca de 80 anos. Pelo menos foi o que me disse um “especialista” que contou os elos do seu casco. É um bicho enorme, parece um banquinho. Creio que se alguém sentar nele, ele carrega.
O negócio dele é fugir de casa. Ele nem sabe pra onde ir, mas continua fugindo. Acho que está gagá, o coitado. Nós aqui em casa já não nos preocupamos, pois sempre tem alguém que vem devolvê-lo – o Nono, como é conhecido aqui no condomínio.
Um dia tocou o telefone, eu atendi. Era o porteiro e a conversa foi mais ou menos assim:
Ai, ai, eu me divirto à beça com meus bichos!
Mas nessa minha narrativa eu jamais poderia deixar de fora o Incrível Hulk, ou apenas Hulk como o chamamos: A criatura verde.
Verde e gozadora. Caráter, também, é uma coisa que passa longe dele!
Os papagaios não formulam frases, eles apenas repetem o que ouvem. Como eu fico mais em casa, ele imita perfeitamente a minha risada e repete tudo que eu digo, e é aí que mora o perigo!
Quando estou no meu ateliê pintando, eu entro em outro mundo e detesto ser interrompida. Aí, toca a campainha, eu presumo logo que a visita é pra mim e exclamo: Visita, que bosta! O resultado disso é que toda vez que eu recebo uma visita o Hulk dispara: Visita! Que bosta! Visita! Que bosta! Visita! Que bosta!... E ainda por cima, intercala com a minha risada!
Aaaaaa, um dia perdi a paciência e lacrei o bico dele com fita crepe!
Agora, porém, não tenho mais como fazer isso, e só me resta passar por esse vexame desde que eu o premiei com a liberdade.
Foi no ano passado que eu notei que ele ficava doidão toda vez que um bando de papagaios passava voando por aqui. Então, eu abri a portinhola do seu viveiro e disse: “Quando se sentir pronto pode partir”.
Demorou três meses até ele descobrir que podia voar. Um dia pela manhã, eu estava na cozinha preparando meu café e ouvi um farfalhar exagerado. Olhei pela janela e vi uma coisa verde voando toda desengonçada: parecia uma borboleta gigante com soluços.
Ele permaneceu na mata por vários dias, mas sempre nos arredores da casa. Eu sentia um aperto no peito toda manhã quando saia para o jardim e ouvia aquela “voizinha” familiar: Bom dia mamãe!... E eu respondia: Bom dia loro!
Eu não podia vê-lo em meio a tanto verde, mas ele me via e ficava esperando eu acordar.
O nosso amor foi maior e não rolou a separação. Certa tarde, ele voltou e fixou residência no telhado do viveiro.
Voltou para continuar me atormentando e me fazer pagar uns micões ainda piores, pois agora ele é livre e faz pleno uso do ir e vir.
Apesar disso, a sua volta foi a melhor coisa que me aconteceu. Descobri que sem ele, a minha vida não tem a menor graça!
Sem ele e sem os outros, que, apesar de loucos, eu os amo demaissssssssssssssss
Mas não é bem assim que acontece a psicanálise. O “Doutor” observa o comportamento do bicho e tenta descobrir as causas do desvio de personalidade. Ele disse que quase sempre chega à conclusão que a culpa é do dono, ou seja, se eles vão ser dóceis, violentos ou agitados, tudo depende de nós. Os animais também são produtos do meio.
Diante dessa revelação, devo confessar que fiquei um tanto preocupada, pois deve ter alguém com sérios desvios de comportamento aqui na minha casa. Só isso explica os bichos aloprados que eu tenho.
A começar pela bela Vera Lúcia, uma legítima Yorkshire de pelos fartos, macios, esvoaçantes, porte elegante, olhos faiscantes e etc., etc., etc...
Quando ela chegou à idade adulta, me deslumbrei com tanta beleza e meus olhos saltaram em cifras ($$$$) imaginando os lucros que ela me daria com seus filhotes. Tratei logo de lhe comprar um marido de fina estirpe com pedigree internacional. O nome dele é Bernardo, um maníaco por tornozelos de carteiro. Tenho que dar um desconto, pois é o único lugar que ele alcança. Isso lhe rendeu o apelido de “fura-meias”. (pelas mordidas, viu, gente, não levem na maldade).
Entretanto, as minhas cifras foram para o ralo quando descobri que ela, a minha bela e doce Verinha, era mesmo apaixonada pelo Bartô - o gato.
Não tive alternativa, a não ser comprar outra esposa para o Bernardinho e aliviar meu prejuízo: A Isabelle (Belinha para os íntimos) que também tem lá suas esquisitices, mas o enlace se consumou.
E por falar no gato, o nome dele é Bartolomeu, mas bem que poderia ser BartoloMALA, ô gato inconveniente, viu!... Nós o chamamos simplesmente de Bartô. Ele é um persa azul-cinza gigante, com muito pelo e nenhum caráter. Ele é convicto de que a casa é dele e nós somos os intrusos. E como incomoda! Sobe em todos os lugares e volta e meia me dá um tremendo susto pulando em cima do meu teclado hdg87#@!(??5hd4*¨432@dbg)+#.
Certa vez, ele virou a tela do meu computador e eu passei três dias com torcicolo até descobrir como desvirava. E se pego pesado na bronca, ele se vinga: entra no meu ateliê e imprime todas as suas digitais nas minhas pinturas molhadas.
É um entra-e-sai infernal o dia todo! Mia pelo lado de fora pra entrar, depois, mia pelo lado de dentro pra sair... Já pensei até em contratar um porteiro só pra ele.
E como se não bastasse, sofre de uma profunda crise de identidade, pois volta e meia se comporta como cachorro: atende pelo nome e ainda balança o rabo. De uns tempos prá cá, só come ração canina e quando insisto com a dele, faz aquela cara de merci, tenho nojo.
E ainda tem os presentes de grego que ele caça no mato e traz para nós. Tem todo o cuidado de depositar bem no meio da sala de estar. Na hora de sacanear, ele é gato.
Mas devo dizer que o Bartô não é lá muito esperto. Esperto mesmo é o Juca - o meu tucano. Um dia eu o encontrei desmaiado no piso do viveiro. Entrei em pânico e o reanimei. Dias depois, o vi despencar do poleiro e ficar lá, duro, de perninhas pro ar parecendo morto. Entrei em desespero e passei a procurar como louca por um veterinário de aves.
Não foi necessário. Logo descobri que ele se fingia de morto toda vez que o Bartô se aproximava do viveiro. Confesso que senti uma pontinha de satisfação ao descobrir que alguém estava se vingando do gato-mala por mim. Hehehe.
O que o Juca tem de esperteza, o Chicão tem de rebeldia. Ele é um Jaboti com cerca de 80 anos. Pelo menos foi o que me disse um “especialista” que contou os elos do seu casco. É um bicho enorme, parece um banquinho. Creio que se alguém sentar nele, ele carrega.
O negócio dele é fugir de casa. Ele nem sabe pra onde ir, mas continua fugindo. Acho que está gagá, o coitado. Nós aqui em casa já não nos preocupamos, pois sempre tem alguém que vem devolvê-lo – o Nono, como é conhecido aqui no condomínio.
Um dia tocou o telefone, eu atendi. Era o porteiro e a conversa foi mais ou menos assim:
- Alô.
- Dona Sueli?
- Sim, sou eu.
- A senhora pode vir aqui na portaria?
- Agora?... Estou um pouco ocupada...
- Eu calculo que pode ser dentro de uns 30 minutos.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, senhora. Só quero que a Senhora venha buscar o Nono.
- Ele está aí?
- De jeito nenhum! A senhora sabe que eu morro de medo desse bicho.
- E onde ele está?
- Está subindo a rua em minha direção.
Ai, ai, eu me divirto à beça com meus bichos!
Mas nessa minha narrativa eu jamais poderia deixar de fora o Incrível Hulk, ou apenas Hulk como o chamamos: A criatura verde.
Verde e gozadora. Caráter, também, é uma coisa que passa longe dele!
Os papagaios não formulam frases, eles apenas repetem o que ouvem. Como eu fico mais em casa, ele imita perfeitamente a minha risada e repete tudo que eu digo, e é aí que mora o perigo!
Quando estou no meu ateliê pintando, eu entro em outro mundo e detesto ser interrompida. Aí, toca a campainha, eu presumo logo que a visita é pra mim e exclamo: Visita, que bosta! O resultado disso é que toda vez que eu recebo uma visita o Hulk dispara: Visita! Que bosta! Visita! Que bosta! Visita! Que bosta!... E ainda por cima, intercala com a minha risada!
Aaaaaa, um dia perdi a paciência e lacrei o bico dele com fita crepe!
Agora, porém, não tenho mais como fazer isso, e só me resta passar por esse vexame desde que eu o premiei com a liberdade.
Foi no ano passado que eu notei que ele ficava doidão toda vez que um bando de papagaios passava voando por aqui. Então, eu abri a portinhola do seu viveiro e disse: “Quando se sentir pronto pode partir”.
Demorou três meses até ele descobrir que podia voar. Um dia pela manhã, eu estava na cozinha preparando meu café e ouvi um farfalhar exagerado. Olhei pela janela e vi uma coisa verde voando toda desengonçada: parecia uma borboleta gigante com soluços.
Ele permaneceu na mata por vários dias, mas sempre nos arredores da casa. Eu sentia um aperto no peito toda manhã quando saia para o jardim e ouvia aquela “voizinha” familiar: Bom dia mamãe!... E eu respondia: Bom dia loro!
Eu não podia vê-lo em meio a tanto verde, mas ele me via e ficava esperando eu acordar.
O nosso amor foi maior e não rolou a separação. Certa tarde, ele voltou e fixou residência no telhado do viveiro.
Voltou para continuar me atormentando e me fazer pagar uns micões ainda piores, pois agora ele é livre e faz pleno uso do ir e vir.
Apesar disso, a sua volta foi a melhor coisa que me aconteceu. Descobri que sem ele, a minha vida não tem a menor graça!
Sem ele e sem os outros, que, apesar de loucos, eu os amo demaissssssssssssssss