“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

19 de mar. de 2013

Mais arte em nossa vida...




Podemos viver rodeados de arte, por que não?

Disse isso a uma pessoa e a resposta que recebi foi inesperada: ‘Aaaaa, mas a senhora pode né, é pintora...’  rs.  Ela não pegou o espírito da coisa. O que ela entendeu não foi o que eu quis dizer.

Foi para minha secretaria que toda vez tirava as peças de decoração de cima dos móveis para limpá-los, me parecia que ao recolocá-las, ela simplesmente jogava tudo para o alto e onde cair, caiu! E lá ficavam. Sem estética, sem sentido e sem ‘arte’.

Quando ela colocou minha escultura do Dom Quixote de costas, chamei-a para uma conversa séria. Perdi um tempão explicando-lhe que havia 2 maneiras de fazer as coisas: de qualquer jeito, ou ‘com arte’.

Achei que estava lhe prestando um grande favor falando de atitudes simples que deixam a casa mais bonita e delicada... Ela não entendeu nada e encerrei o papo pedindo que colocasse os objetos de volta nos mesmos lugares.  Acrescentei ainda que meu Dom Quixote não é elefante pra ficar com a bunda voltada para porta... Ok, isso eu disse só em pensamento.

Lembrei-me agora que ela disse qualquer coisa sobre ‘dom’ – palavrinha que eu não gosto e não acredito que exista. A única coisa que já nascemos sabendo é mamar, todo o resto temos que aprender. Acredito, sim, em talento e vocação, que tem mais a ver com paixão e dedicação. O talento se desenvolve quando há paixão. Pela dedicação aprendemos tudo sobre aquilo que temos paixão. É mais ou menos isso rsrs.

Porém, basta um pouquinho de traquejo para tornar tudo mais belo ao nosso redor. Por exemplo: pôr a mesa com capricho, ainda que os guardanapos sejam de papel. Colher flores silvestres naquele terreno baldio e colocá-las numa bela garrafa azul que iria para o lixo. Agrupar os porta-retratos por tamanho, procurando a melhor posição para que possam ser vistos por vários ângulos. Compor o arranjo de quadros na parede de forma harmoniosa, evitando a horrorosa escadinha. Para isso, é bom fazer ‘um ensaio’ com eles no chão. Tentar várias possibilidades antes de pendurá-los. Vale muito, ainda que nossos quadros sejam de páginas de calendários emolduradas com vidro. No meu entender tudo isso é arte.

E por falar em quadros, acho engraçado que, pelo fato de eu ser pintora, algumas pessoas pensam que tenho quadros do rodapé ao teto na minha casa. Coisa medonha, né, pois um óleo apenas já é o suficiente numa parede. Dependendo do tamanho, ‘cabe’ apenas 1 em todo o ambiente.

Quando eu era criança visitava muito uma tia que tinha uma casa bem arrumada. Enfeitava tudo com bibelôs e toalhinhas de crochê engomadas. Tinha mania de capinhas bordadas que cobriam os eletrodomésticos: capa para o bujão de gás, o liquidificador, a batedeira, o filtro de barro, o bule de café... e por aí vai, só faltou mesmo encapar a casa por fora... rs.

Certa vez, eu, muito xereta, entrei num quarto em penumbra e dei de cara com um fantasma todo branco e sem cabeça!! Saí correndo aos berros, apavorada! Minha mãe me acalmou e mostrou-me o ‘fantasma’: era só a enceradeira encapada... rsrs.

Naquela época prometi a mim mesma que minha casa seria limpa de tralhas inúteis, sem muitos fluflús. Eu acabara de decidir por uma decoração minimalista, tão em moda atualmente.

Uma casa entulhada de quinquilharias pesa e deprime. Espaços vazios no chão servem para uma boa circulação; nos móveis, servem para ‘descasar’ os olhos e valorizar o pouco que se deseja mostrar.  Caso contrário, nem saberemos para onde olhar e a decoração perde sua função, que é proporcionar beleza e aconchego. Menos é mais, sempre.

Enfim, viver com arte é uma arte que temos que aprender num exercício diário, sobretudo na nossa vida pessoal. Nem sempre é fácil, mas vale a pena tentar. Viver com arte pode significar também sermos corretos nas atitudes, leal com os amigos. Resguardar a nossa intimidade e sermos discretos no trato com os outros. Não sermos enxeridos, não meter o bedelho na vida alheia. Respeitar a individualidade de cada um. Sermos cordiais com estranhos, educados e elegantes nas mínimas coisas.

E sempre verdadeiros, naturalmente.

14 comentários:

  1. Ois é minha cara blogueira. Tenho tentado colocar um pouco de arte em tudo que faça. POde parecer estranho isso partindo de um professor de ingles/portugues, mas ensinar é uma forma de arte(quem nunca tentou não sabe disso). Fuyi muito influenciado , artisticamente falando, pela riqueza cultural do seculo 20 que vivi no dia a dia. De uma olhadonha no texto uqe escrevi sobre isso e opine.
    Abraços fraternos
    http://blogdosig.blogspot.com.br/2012/03/arte-que-vimos.html

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    1. Sig, obrigada pelo seu comentário!

      Vou sim, ler o seu texto e opinar...

      'Abrir um espaço para a arte na nossa vida' pode ser entendido de várias maneiras: no bem viver, cercando-nos de capricho; na aproximação da boa cultura, recusando o lixo que insistem em nos enfiar goela abaixo... Enfim, podemos fazer tudo 'com arte', ou sem ela e se deixar levar... empurrando com a barriga...

      Grande abraço.

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  2. Su, que crônica verdadeira! Concordo em tudo e mais no que você pensou e não quis dizer... Só que, minha 'secretária' não tira o pó de nada. Quando ela vai embora, tenho a sensação de que morri - de cansaço. Isso é só pra garantir a vida dos objetos.
    Esse negócio de guardanapinhos e capas pra todos os eletrodomésticos é muito engraçado, nunca entendi porque tantos vestidinhos. Mas eram assim nossas avós ou mães. Eram mil babadinhos nos armários e fitas com laços em cima das blusas no armário. Que mão de obra.

    Resumindo, viver é uma arte em todos os aspectos, e das mais difíceis, onde ninguém nunca viverá com perfeição e harmonia! Acho que por isso olhamos tanto uma obra pictórica. Nela podemos imaginar a perfeição.

    Mandou 'tri', amiga, gostei demais.
    Beijão.

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    1. Tais, também nunca entendi tanta poluição visual. Nunca gostei, nunca ‘fez a minha cabeça’. Entendo, foi modismo que ficou lá trás... Valeu para uma época, mas cá entre nós, que mau gosto, hem, amiga... rs. Aquilo estava para o Rococó do século XVIII... (desculpa, não resisti rsrs)

      Mesmo na arte visual da atualidade (pictórica e etc.) vejo uns exageros, um amadorismo sendo cultuado, que não consigo interpretar como ‘boa arte’. Mas... como dizem alguns, arte é subjetiva, e quem sou eu para criticar? Sempre haverá quem goste.

      Vc já ‘me acusou’ de ser muito crítica, já me deu a fama, agora, vou deitar na cama hahaha

      Brigadão pelo comment. Gostei demais da conta, Tchê!!

      Bjobjo!

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    2. kkk, mentira, nunca te acusei de crítica, kk. Mas já pensou como daria para abordarmos tantos assuntos se não fossemos um pouquinho críticas! De certo modo eu sou. E sobre arte, falei sobre ARTE! Não sobre outra coisa. E você entendeu... Que coisa, guria. kk

      Beijão!! Tá, deita e rola, sempre vai sair coisas muito interessantes... cruzes.


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  3. Verdade Amiga todo exagero é de certa forma poluição ...perfeito Parabéns Pedro Pugliese

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  4. Sueli, acabei de descobrir que sou adepta à decoração minimalista, rsrs, nada me incomoda mais que um ambiente repleto de quinquilharias, meu marido diz que a minha arte é desentulhar, de fato, adoro! Apenas sinto não poder estender esse meu talento até a casa da sogra, de alguns amigos, vizinhos...(a lista é longa, rsrs).
    Só para lembrar, essas pitadas de humor que você coloca tão bem deixam os seus textos uma delícia de ler, parabéns!

    Beijos

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    1. Néia, é questão de temperamento, eu acho. Eu também sinto comichão em desentulhar a casa dos outros rsrs. Quando passo uns dias com minha mãe já chego abrindo espaços, guardando tudo. Vamos combinar que minha mãe adora juntar coisas rsrs. Quando vou embora volta tudo pro mesmo lugar rsrs.

      Obrigada querida amiga! Adoro seus comentários.

      Bjobjo!!

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  5. Oi Sueli
    Voltei, e com bastante saudades.

    Me ausentei um pouco enquanto meus óculos ficavam prontos. A intenção era pra ficar apenas por uma semana, mas acabei esticando até a Páscoa. Mas foram dias maravilhosos na roça.

    Estou aqui rindo com o seu susto por conta da enceradeira. Eu teria desmaiado.
    Adorei a dica sobre a disposição dos quadros, em testar antes no chão.
    Que ótima ideia.
    Este negócio de decoração...Hum é um caso sério e complexo, mas estou plenamente de acordo em que menos é mais. Eu fui criada num ambiente simples, mas os móveis eram de madeira pesada, me parece que eram de Imbuia.Estão até hoje na casa de minha mãe. Eram bem escuros, o piso também era madeira (taco)e tábua corrida. As toalhinhas de crochê sempre muito brancas davam um certo contraste e, ou talvez por que trouxessem um pouco de claridade ao ambiente ,até que me atraíram durante alguns anos. Confesso que o ambiente ficava um pouco depressivo, triste, não sei explicar, não havia pensado nisto antes, tudo era muito sóbrio, até as pessoas. Acho que o local influi muito no nosso humor. Hoje ainda bem, tudo é mais Clean e eu prefiro assim . Eu me sinto melhor em em lugares claros. Penso que a maioria das pessoas também. Estou sempre desentulhando, pra ter mais espaço. Quanto a arte, adoro flores naturais em vasos transparentes. Só tenho que ter cuidado para a minha emoção não me fazer exagerar na dose.
    Adorei a postagem, peço desculpa por não ter comunicado sobre a minha ausência no blog, é que estava sem óculos e sem Internet.
    Um grande abraço, aos poucos coloco em dia todas as leituras.
    Fica com Deus.
    Bjs.

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    1. Lourdinha, que bom que está de volta, amiga! Senti tua falta, de verdade.

      Eu também penso que a casa reflete a personalidade dos donos, o que são no íntimo. Uma decoração leve, organizada graciosamente é aconchegante. E pode influencia positivamente nas nossas emoções.

      A casa dos meus pais, onde nasci e fui criada era um pouco do que descreveu: móveis escuros, com toalhinhas brancas de macramê engomadas por baixo dos muitos bibelôs. Informação visual um tanto confusa a meu ver rsrs. Mas sinto saudades, valeu para aquela época, porém, nosso conceito de ‘beleza’ muda com o tempo. Aprimora.

      Gostava dos quadros nas paredes comprados pelo meu pai, ele adorava. Acho que veio dele a minha paixão pela arte pictórica.

      A ‘tia’ da enceradeira encapada, era na verdade uma amiga da minha mãe. Eu achava a casa dela muito engraçada com todas aquelas coisas de vestidinhos rsrs.

      Um beijo enorme, Adorei vê-la aqui!! Obrigada!

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  6. Acabo de ver que perdi este texto no meio de outros, não havia lido e nem comentado!

    Fiquei pensando nos babadinhos que encapam os eletros, alguns anos atrás era parte obrigatória dos enxovais, era necessário ter pelo menos 2 kits daqueles para revezar... Principalmente lá no interior, de onde venho, amiga! rsrsrs Lembro de minha mãe dizendo que eu teria que aprender, para bordar meus próprios 'paninhos' e eu, lá pelos 13 anos, respondendo: olha, se a vida não me privilegiar e eu for pobre, não terei dinheiro para gastar com essas coisinhas, então não terei nada disso em minha casa. E se a vida me sorrir e eu me tornar rica, vou ter dinheiro e bom gosto suficiente para comprar coisas mais bonitas, portanto, não preciso aprender nada disso! rsrsrs

    Também gosto de espaços abertos, a poluição visual cansa os olhos e deprime, não há dúvidas! Aquela coisarada toda, ao invés de enfeitar, faz a gente querer sair correndo para o ar puro! rsrsrs

    E concordo: a vida é uma arte, e precisamos ser artistas para desfrutá-la bem! Mesmo o reciclável pode ser de bom gosto, ou seja, a 'empilhação' não se justifica, o que vale mesmo é o cuidado e a dedicação na hora de decorar. De fato, o menos é mais! Beijo grande.

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  7. Suzy, menina esperta vc!! Nada de aprender crochê, bordado aos 13 anos!! rsrs. Eu aprendi tricô e crochê com a minha mãe para fazer casaquinhos de bebê quando estava grávida. Achava tão meigo uma mulher grávida tricotando rsrs.

    Olha, eu não vim do interior, mas os kits tbm fizeram parte da minha infância e juventude. Todas as casas tinham, inclusive na casa da minha mãe. Lembra-se do conjunto de banheiro que tinha até capinha para o cesto de lixo? rsrs. Ainda hoje muitas casas têm, eu que sempre fui ‘avessa’ a essas coisas. Nem de muitos tapetes, eu gosto. É uma trabalheira danada pra lavar rsrs.

    Tenho visto umas decorações com recicláveis lindas de viver!! De muito bom gosto. É isso amiga, o tempo passa e as coisas mudam, tudo muda, na moda, na decoração... Mas andamos em círculo, e às vezes voltam repaginas num retrô. Vamos esperar alguém repaginar os kits rsrs.

    Brigadão pelo comment!!

    Bjobjo!!

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  8. Ai ai ai, estou até vendo o futuro: minha filha usando os kits-capinhas na casa dela, porque é o último grito da moda! kkkkkk Aí pago a língua né... kkkkkkkkkk

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Sejam bem vindos! Sintam-se a vontade. Comentem, digam o que pensam. Podem rodar a baiana, só não cutuquem a onça com vara curta, ok?... rs