“O sonho encheu a noite. Extravasou pro meu dia. Encheu minha vida e é dele que eu vou viver. Porque sonho não morre” (Adélia Prado)

18 de jul. de 2012

VAZIO


Ando assim, assim...
Ando nada!

Ando mais num tempo
De deixar o vento chicotear meus cabelos,
Embaralhar pensamentos
De tudo que ficou pela superfície
Como uma biografia esparsa...

Ando.
Na rua,
No mundo
Da lua.
Pulando fases
Na face oculta.

Como te contar que colhi espinhos
Porque não vi as rosas?
Que a poeira estrelar que agora vejo
É senão o baço espelho dos meus olhos?

Quero abstrair-me de dores desnecessárias
Que a memória armazenou.
E, então, buscar-te nos traços do acaso
Que o delírio rabiscou...

Onde te procurar?

Na mão que nunca alcança
A flor que não abriu?

Meu sentir se foi
Nas folhas outonais que não notei,
Na música que não cantei,
Na dança que não rodopiei,
No sabor que não provei.

Nos momentos que não vivi 
À flor da pele,
Me perdi:

Pois, onde é um lugar que não existe
E, sem você
Meu caminhar é tão triste...

...

Perder-se a si mesmo é ato consentido
Aos que criam,
Vivem de sonhos e fantasiam.

E depois,
Dançam com a sorte...

Voltar é um ato consagrado
Por passos incertos, pessimistas.
Mas, não demora
O coração festeja como passista!

Veja como ando
Na contramão da poesia
Esbarrando em versos trôpegos,
Rimas desafinadas,
Em preto e branco,
Multifacetadas.

Estranho, isso.
Com tantas cores lá fora...

- sueli gallacci

8 comentários:

  1. Amiga:

    Esse poema, quanto mais lemos, mais vamos descobrindo equívocos, verdades e tristezas de uma vida que está em cada um de nós. Ninguém foge desse seu ritmo, dessa sua visão tão verdadeira, sem festas, sem futilidades, sem sorrisos forçados.
    No íntimo de cada um de nós está esse seu poema, forte e direto. Fui lendo, amiga, e fui constatando a maturidade de cada frase e como a vida é séria e dispensa firulas inúteis. Quanta gente vive equivocada!

    'Ando assim, assim...
    Ando nada!'

    'Quero abstrair-me de dores desnecessárias
    Que a memória transformou.'

    Há tantas verdades nesse seu poema, frases tão doloridas exatamente por trilharmos caminhos equivocados, dá dor em mim, em você e em quem estiver lendo. A vida passa, muitas vezes com amargura, mas enquanto isso o sol brilha intensamente... E muitos não se dão conta. Estão no vazio! E, tudo isso, amiga, somos nós. Você resumiu, e como! Você colocou no papel muita sensibilidade, coisas resgatadas no fundo do coração de cada um de nós. E como ficou lindo! Aplaudo.

    Beijo grande
    Tais

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  2. Absolutamente sensível, lindo e para ser lido muitas vezes!

    Beijos

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  3. Oi Sueli,

    Seu espaço é lindo e o netinho fofo demais. Parabéns!

    Sua maneira de versar é encantadora. Adorei o poema. Há muita sensibilidades nos versos.

    "Como te contar que colhi espinhos
    Porque não vi as rosas?".
    (E como acontece!...)

    Obrigada por sua visita e comentário.

    Estarei seguindo.

    Ótimo final de semana.

    Beijo.

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  4. Sueli.Este poema é lindo, verifiquei que minha amiga já segue o outro meu blog há muito tempo, pois é o nº 70. Aqui eu pode ver e ler sua filhota, desejo ardentemente que seja encontrado um dador, e tudo se resolva rápidamente.Bjinhos.
    António.

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  5. Nossa, Xará! Que poema mais lindo!!! Estou extasiada! Tocou-me a alma, profundamente. "...colhi espinhos porque não vi as rosas...". E não fazemos isso sempre? Um grande abraço!

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  6. 'Ando assim, assim...
    Ando nada!'
    ..............
    Mas que poema lindo....vim descobrir.!
    Mesmo estando longe das vivências....
    elas se adivinham....
    Parabéns
    Beijo

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  7. Maravilhoso poema.
    Bom domingo
    Beijinhos
    Maria

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  8. Precioso poema! Te visitaré con más calma porque me gusta mucho tu blog y tu forma de escribir. Gracias por haberte hecho seguidora del mío. Un fuerte abrazo desde España.

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Sejam bem vindos! Sintam-se a vontade. Comentem, digam o que pensam. Podem rodar a baiana, só não cutuquem a onça com vara curta, ok?... rs