Para que não restem dúvidas, devo esclarecer que sou boa
cozinheira. Aliás, eu sou ótima. Pensando bem, eu beiro a perfeição. Menos,
Maria Sueli, menos.
Não me interessa o título de melhor chef de cuisine
internationale do universo, mas ganhar o rótulo de cozinheira meia-boca só por
que não consigo fazer 2 coisinhas na cozinha, não admito. Acho injusto com
alguém que já fez até pratos requintadíssimos, como, por exemplo, strogonoff
com batata palha – o legítimo!!! Flambado com conhaque e tudo! Isso pra citar
apenas uma das minhas especialidades. Ressalto ainda, que já consigo virar
panquecas jogando pro alto sem que elas colem no teto. Isso mesmo, elas voltam íntegras e lindinhas para a frigideira. Esse foi um grande sonho realizado!
Eu não cozinho no dia a dia, somente nos finais de semana:
justamente para não enjoar, perder o gosto pela coisa e acabar ‘errando na mão’.
Daí minha frustração quando o troço desanda.
Capítulo bolo: Não cresce, o desgraçado. Nem com promessa de
subir de joelhos até a cabeça do Cristo Redentor. Compacta como se tivesse um
vácuo dentro dele. Já mudei a marca do fermento, da farinha, do leite e do ovo:
troquei de galinha branca por galinha preta. Testei a carijó. Por ultimo, a
caipira. Não teve jeito, continuou empastado e grudento. Disseram-me que era
por que eu abria o forno enquanto estava assando - o sensível e temperamental
‘indivíduo’ sofria choque térmico.
Fui radical: vedei
todas as frestas da porta com fita crepe suficiente para não passar nenhuma
molécula de oxigênio.
CRESCEU!!!! QUE EMOÇÃO!!!!!... Maaaasss... foi só eu retirá-lo do forno, o bicho afundou!! Formou um buraco no centro tão fundo, mas tão fundo, que me lembrou as olheiras da Gretchen...
CRESCEU!!!! QUE EMOÇÃO!!!!!... Maaaasss... foi só eu retirá-lo do forno, o bicho afundou!! Formou um buraco no centro tão fundo, mas tão fundo, que me lembrou as olheiras da Gretchen...
Outra pessoa me disse que para não acontecer isso, eu tinha
que deixar o infeliz no forno até esfriar totalmente. Foi o que fiz. Desliguei
o fogo e fui fazer outra coisa. Tinha que ocupar a minha mente e esquecer o dito cujo. E esqueci mesmo. Tirei-o de lá uma
semana depois direto pro o lixo.
Mas quem disse que eu preciso fazer bolo?... Realmente não
preciso. Tem ‘ilhares’ de confeitarias que vendem bolos deliciosos. Tem uma
ótima aqui perto da minha casa. Sempre passo lá e compro o de fubá com
erva-doce, meu preferido. O problema é que eles colocam pouca erva-doce e eu
gosto de muuuuita. O suficiente para eu pensar que estou mastigando areia...
Capítulo bife: Enrola, o maldito. Fecha como uma concha. Na
hora de comer, tenho a impressão que estou mastigando uma sandália Havaianas
com gosto de isopor. Já tentei com tempero, sem tempero, muito óleo, pouco
óleo, sem óleo, com azeite, manteiga, frigideira fina, grossa, de alumínio, de
ferro, teflon, na chapa, Ufa! Cansei! Tô desistindo da vida...
Só não vou desistir por que persistência é meu nome, determinação é minha
marca, meu lema, minha bandeira. Estou casada há quase 4 décadas, e desde
então, venho tentando o bife perfeito.Já tentei fazer o tal de panela de
pressão e o resultado foi a panela que foi pro lixo. Era presente de casamento
de incalculável valor sentimental. Essas coisas machucam a gente...
Já me rebaixei ao ponto de pedir a receita para a melhor
fazedora de bife do planeta: minha mãe.
Fiz pior: vali-me de uma caderneta, uma caneta e montei um
passo a passo bem detalhado. Grudei nela desde a hora que ela entrou no açougue até
depositar na mesa aquela travessa fumegante e suculenta. Anotei tudo, inclusive
cronometrei o tempo que levou para aquecer a frigideira.
Depois de estudar a caderneta por vários dias consecutivos,
resolvi colocar em prática todo meu conhecimento teórico. Fui a uma casa de
carnes (a melhor da região) e comprei 5 quilos de contrafilé (queria esbanjar meus
novos predicados). Contrafilé é meu bife predileto - feito pelos outros,
naturalmente. Entretanto, algo me dizia que seria diferente dessa vez. Otimismo
acima de tudo.
Com entusiasmo fiz trabalhos de bastidores: limpei, bati, temperei,
tudo de véspera e no maior capricho. Embalei em papel filme e levei à
geladeira. Mal pude dormir naquela noite, tamanha era a expectativa...
No dia seguinte, embora um pouco nervosa (normal, né, gente),
meti a mão na massa com a cara e a coragem. Estendi o primeiro na frigideira com o mesmo
cuidado de quem cobre um bebê. ATENÇÃO!!! Preparando-se para enrolar em 3...2...1...
Larguei o amaldiçoado queimando e fui ligar pra minha mãe:
- Mãaaaaaaaaae, o bife enrolou – disse chorosa.
- Você fez os picotes na gordurinha ao redor?
- Gordurinha?!... Que gordurinha? Que picotes???
Imediatamente me lembrei do açougueiro perguntando a ela:
‘vai querer que eu faça os picotes?’
Eu havia entendido ‘pacotes’.